Na pequena pista de dança com as luzes piscando sem parar, ela virou para uma amiga e disse:
-Se tocar Strokes hoje eu bebo 5 doses de tequila.- A amiga, claro, riu dela duvidando da sua promessa de tequila. Quando “Heads Will roll” terminou, ela sorriu para a amiga e aguardaram o começo da nova música e então, a guitarra e a bateria irreconhecíveis de “The end has no end” começaram a ressoar, ela sorriu e se jogou na pista, balançando os braços no ar, fazendo uma dança com os pés que só ela sabia fazer e cantando bem alto, pra todos ouvirem sua voz no meio daquele barulho: "Can't you find some other guy? oh no!” .
Do outro lado da pista, encostado no balcão ele a encarava, observando cada movimento dela, vendo ela cantar muito alto e se encantando pela beleza que emanava dela. Do outro lado da pista ele se encontrava pra provar a ela que ela poderia encontrar outro garoto sim.
Planejou uma conversa mentalmente com ela e quando caiu em si, a música já tinha acabado e ela acompanhada de outra amiga vinha em sua direção, acendeu um cigarro e sorriu pra ela mais ela passou reto pelo sorriso e foi em direção ao barman pedindo 5 doses de tequila.
- 5 doses de tequila?- o barman indagou abismado. - e só pra você menina?! Tu é doida ou quer sair daqui morta?- ela riu e respondeu gentilmente.
- Tudo por Strokes, tudo por Strokes.- o barman riu com aquilo e foi preparando suas doses de tequila. Enquanto ela esperava se virou para a pista, começou a cantarolar a música que tocava e ao olhar pro lado enquanto cantarolava percebeu que a sua amiga não estava mais ali ao seu lado e sim desentupindo a boca de um garoto bem novinho aparentemente, deu de ombros e se virou para o balcão.
Ele a encarava sem ela perceber, se sentia nervoso porque nunca se interessava por garotas como ela, mais ela tinha algo diferente, aquela alegria de ouvir Strokes e dançar com os olhos fechados não se importando com o resto, aquilo realmente chamou a atenção dele, porque todas ali eram iguais, ouviam The Killers e gritavam “Aaaaah Killers”, ouviam Muse e “Aaaaah Muse”, ouviam Pixies e “Nossa que foda!Pixies” mais ela não, ela não gritou The Strokes, ela cantou bem alto e sorriu, o tipo de sorriso que ele gostava.
E então, ela se virou e o viu ali a encarando descaradamente.
Ao se virar para o balcão seus olhos acabaram encontrando algo, ou alguém, alguém que a encarava. Alguém com cabelos castanhos bagunçados, jaqueta de couro preta, all star, calça jeans clara e um cigarro acesso intocado na mão. Alguém com um olhar diferente. Ela acabou sorrindo com o pensamento idiota “olhar diferente” e viu ele sorrindo pra ela. Ficou presa ao sorriso e ouviu lá no fundo alguém falando algo sobre tequla. “Ah não! Não posso me mostrar uma bêbada pra ele, merda”.
- Guria, tuas doses de tequila- ela se virou sem graça para o barman e agradeceu. Olhou para o cara que a encarava e notou que ele tinha se aproximado dela e ainda a encarava. Ela tomou a primeira dose, a segunda dose, a terceira dose e sacudiu a cabeça e o ouviu rindo, tomou a quarta dose e com muito sacrifício tomou a quinta, batendo o copo no balcão mostrando a sua bravura.
Ele riu quando ela bateu o copo no balcão, se aproximou mais dela que o encarava com um sorriso brincando nos lábios, abriu a boca pra falar mais sentiu uma ardência nos dedos da mão esquerda.
- Ai cacete!- foi o que ele pronunciou jogando a bituca do cigarro intocado fora- Maldito cigarro- ele completou, esfregando os dedos na jaqueta. E ouviu a risada dela. - Ta rindo de mim,é?!
-Tô sim, nunca vi alguém acender um cigarro, não fumá-lo e queimar os dedos com ele. - ela riu mais um pouco, flertando é claro.
- Eu tava distraído- ele a encarou, vendo claramente as feições dela, cabelos não muito curtos castanhos, a franja clássica, all star, calça jeans escura e uma camiseta é claro dos Strokes. E os olhos castanhos claros dela carregavam um brilho.- Quase que enfeitiçado.- ele sorriu. Ela quase desmaiou.
- Enfeitiçado? – ela deu mais um passo se aproximando dele. Ele foi mais rápido e chegou mais perto dela, sentindo o hálito de tequila no seu rosto. “sem rodeios”, ele pensou.
- Que gosto tem a tequila nos seus lábios?- ela sentiu o hálito de cigarro no seu rosto e não se incomodou com isso.
-Não sei, prova.- e sem esperar, ele colou o corpo dele no dela e se beijaram. E quase como que mágica ou apenas confusão The Strokes começou a tocar de novo. Calma, eu explico: o DJ confundiu sua set list e pensou que não tinha tocado The end has no end ainda, repetiu a música, a galera não reclamou, então, estava tudo certo.
Ela sorria mentalmente de olhos fechados, ele, Strokes e tequila. Só podia ser sonho, o trouxe para mais perto dela e prolongou o beijo deles.
Abriu os olhos, tinha sido um sonho.
A música tocava ainda. E alto.
Não tinha sonhado.
Ela podia sentir o gosto de cigarros na sua boca e o viu sorrindo para ela.
Ás vezes as coisas mais perfeitas duram uma vida inteira, 3 anos, 26 anos, uma viagem de ônibus, 45 minutos ou apenas uma noite. Às vezes pode-se encontrar alguém que você precisa em 3 anos, 40 segundos, numa noite ou no decorrer de uma música.
Ela encontrou em uma música. E melhor, em uma música do Strokes banhada de 5 doses de tequila.
Um ps da narradora:
você sabe que é pra você,minha melhor amiga, irmã mais velha, madrinha dos meus filhos, madrinha do meu casamento, a amiga que espera meus 18 anos, a causadora de muitas risadas. a melhor amiga que eu encontrei na minha vida.a amiga que sempre será lembrada quando The Strokes tocar em algum lugar, sempre mesmo.
[semana incrível, relacionamento no orkut alterado e muitas risadas nesse domingo com sol, graças!]
ouvindo: the strokes_the end has no end/yeah yeah yeahs_heads will roll/
Um comentário:
ih eu conheço a pessoa da inspiração hein AHAHAHAH
AMEI! muito bem escrito, como sempre!
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